terça-feira, 18 de agosto de 2009

A greve no CENAM: panorama do sistema socioeducativo no Brasil.

Olá senhoras e senhores,

Sabe o que me entristece mais? Não é o fato de haver greve do pessoal que se diz da "segurança" do CENAM e todas as complicações que isso causa, mas sim o fato de que isto está longe de ser um caso raro e isolado no Brasil.
Uma coisa eu aprendi estando cerca de três anos convivendo com profissionais de medida socioeducativa de internação aqui do DF e da Colômbia: Os adolescentes em um sistema de internação são também reflexos diretos das ações e não-ações dos funcionários que os cuidam. Da mesma forma, num imenso equivoco de comportamento técnico-profissional, esses mesmos funcionários que deveriam ser exemplos de um verdadeiro apoio socioeducativo, utilizam do igual artifício dos adolescentes: tentam ser eles vítimas de um "sistema"e não compreendem algo mais profundo em suas ações e não-ações.
Ora, não os culpo, mas devo falar a verdade, pois muitos dos que trabalham com adolescentes em conflito com a lei, tanto faz se tem ensino superior ou médio, por pouco, mas pouco mesmo, nas suas histórias de vida, não se tornaram tão vulneráveis quanto aqueles que eles próprios atendem. Muitos escaparam de uma vida marginalizada, e obviamente sendo muito objetivo na minha análise, essas pessoas não possuem um arcabouço psicológico e social capaz de exercer trabalho de intervenção com esses adolescentes e suas famílias. Conheço um psicólogo que diria o seguinte: "A maioria deles (profissionais em medida socioeducativa) possuem muitas gestalts abertas, por causa de uma vida conturbada e cheia de riscos e vulnerabilidades, e que ainda aprenderam a duras penas fazer das suas próprias fraquezas, forças."
Somando a essa fragilidade do corpo técnico-administrativo, ainda temos um quadro de baixos salários, salários vergonhosos, que por vezes fortalece a própria situação de vulnerabilidade e risco desses trabalhadores. Mas sejamos lógicos: MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS NÃO DÃO VOTOS PARA POLÍTICOS. Nenhum presidente, governador, prefeito, deputado ou vereador ganha uma eleição com uma base eleitoral feita de propostas para melhorar o sistema socioeducativo. Nós estamos falando de uma população de cerca de 0,1% se colocarmos ela dentro do sistema carcerário. 0,1% não elege ninguém. O problema é q esse 0,1% são vidas.
Que devemos lutar por salários melhores na socioeducação, sim devemos, mas não vejo ninguém fazendo greve para reinvindicando melhorias no atendimento psico-socio-terapêutico em semi-liberdade, LA ou na Internação. Até quando iremos nos convencer de que dar oficinas de pobre para pobre é melhorar o sistema socioeducativo? Até quando iremos nos enganar em pensar que não existe um CDCA que não tenha seus digirentes e participantes atolados de favores políticos, que simplesmente negam autorização às instituições que possuem projetos socioeducativos competentes mas que não pagam a devida propina para o Conselho e seus comparças? Até quando devemos aceitar pessoas do governo incapazes de gerirem qualquer sistema socioeducativo? Até quando vamos aceitar que no final das contas, quem sai morto de dentro dessas unidades seja a maior vítima de todas: o adolescente?
Ah, antes de pensarmos sobre a questão, segue a matéria do Correio Braziliense, aqui do DF, sobre a morte de um adolescente do CAJE neste final de semana, é só assistir o vídeo:http://www.correioweb.com.br/tvbrasilia/index.htm?id=3000

Até mais

Um comentário:

  1. Nós Agentes de Segurança Socioeducativo de Minas Gerais estamos enviando o endereço de nosso blog que é uma de nossas ferramenta de luta: www.agentesocioeducativo.blogspot.com
    Mandamos um forte abraço.

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